Passos...

Em seu single de estreia, Falantes, o duo Container Blue trouxe de volta algo que há

muito havia se perdido em meio a uma sempre inconstante onda de sucessos descartáveis e

idolatrias volúveis, um rock n roll puro, enraizado no blues, com gosto de cerveja e cheiro de

perfume misturado com cigarro, diversão garantida ou a sua rabugice de volta. Em seu

segundo lançamento, a dupla não só mantém a festa animada como cumpre a promessa

velada do primeiro lançamento de não deixar o clima esmaecer ou a música acabar até que o

sol retorne e venha cobrar sua dívida, paga com a satisfação de quem sabe que a ressaca terá

valido a pena!

O mais recente trabalho do Container Blue, Passos, reafirma o estilo do grupo sem cair

nas armadilhas de repetir o que deu certo ou se autoplagiar. A canção evoca o mesmo

sentimento de resgate da música despojada sem seguir a receita do lançamento anterior.

Passos não só subverte o ditado que diz que em time que está ganhando não se mexe, como

prova que quando o repertório é bom, não há motivo para não quebrar o molde.

Em Passos o groove do blues se faz presente, mas cede o protagonismo da levada às

distorções e palhetadas que evocam o rock alternativo tanto no poder dos acordes quanto na

cadência ondular do volume que sobe e desce em horas estratégicas imortalizada pelas

bandas indie dos anos noventa e aqui refrescantemente revisitada e adaptada. A base de

bateria e guitarra preparam uma fundação sólida para que a voz possa conduzir a canção sem

perigo de ser soterrada ou desviar o foco do que realmente interessa, a força do rock n roll sem

firulas.

A letra quase psicodélica não tem a pretensão de encontrar respostas ou mesmo de

procurá-las, mas simplesmente afirmar que se perder pode ser uma maneira tão válida quanto

qualquer outra de percorrer o caminho, talvez até mais divertida. E é exatamente essa diversão

que faz do som do Container Blue algo tão essencial em meio a tantos floreios desnecessários

e pedâncias enfadonhas, canções simples e despretensiosas, mas tão fortes e poderosas

quanto o uísque que você bebeu sabendo que o rótulo não correspondia ao liquido, mas

aproveitou do mesmo jeito!

Pedro Schimidt